quinta-feira, 17 de abril de 2014

             O antigo Sacerdote Souzurd, nos dias de hoje instrutor e sábio do Grande Salão Última Pena Destra.      
   
                   -A magia das penas era oculta, escondida da sociedade, por segurança das próprias pessoas, e entre eles pensava-se que o nome do lugar fora dado apenas por que os sábios e instruídos escritores se reuniam frequentemente ali. Apenas um sacerdote antigo e um mago ficavam no interior do Salão, após inúmeros testes que eram feitos para selecionar os chamados 'Guardiões do Salão', como eu fui há muito tempo atrás. Agora não temos conhecimento do que aconteceu com as demais penas e com sua magia de escrita, nem o por que da restante, a única, permanecer imóvel. - na mesa bem iluminada e forrada de papiros e páginas destacadas de livros em que estava sentado próximo, o antigo sacerdote Souzurd Silvereye mantinha um diálogo com Lyria Hillyrrin, uma jovem elfa de cabelos dourados e aparência jovem como sua raça esguia mantinha, de nariz afilado e lábios finos, quase imperceptíveis, olhos de safira, carregando em suas orelhas pontiagudas dezenas de brincos e argolas com fragmentos de cristal lilás e azul, que contrastavam com seu grande vestido rosado estampado com Asessippi lilás tão realista que quase seria possível sentir seu perfume. O sacerdote possuía quatro aprendizes e a elfa era a mais dedicada aos estudos, e juntos naquele momento, folheavam páginas soltas e faziam algumas anotações, enquanto o homem idoso que a tempos atrás foi responsável pelo lugar passava seu conhecimento para a jovem.
                     A roupa azul-escura emprestou seu tecido à manchas marrons, e sua cabeleira branca fazia um arco ao redor do rosto quase tocando na sua barba de mesma cor, destacando seu olhar escuro e envelhecido num semblante pesaroso, sobre seu grande nariz largo. Se não fosse a magia de retardar o envelhecimento da energia subterrânea, provavelmente o homem não estaria mais vivo, e tinha decidido usar o tempo que lhe restava para passar seu conhecimento e experiência aos mais jovens, ao futuro daquele lugar, se é que o próprio futuro não tinha os abandonado.
                    -Entendo...o senhor me disse que do lado de fora do Grande Salão existiam algumas bibliotecas arborizadas onde as pessoas tinham acesso a alguns livros, e alguns até escreviam ou enviavam os seus próprios para serem guardados, por isso que no meio do que sobrou estamos encontrando isso...- Lyria delicadamente ergueu uma folha grande que deixava sua poeira se soltar e cair na mesa, onde tinha uma receita de como usar gafanhotos, mel e pêlos de vacas para curar dores na barriga.
                     -Isso você pode jogar fora, - Souzurd tossiu encostando a parte de trás de sua mão na própria boca. - ou guardar caso você venha a ter algum problema e precise dessa receita. - sorriu recebendo um sorriso tímido da elfa como resposta.
                      Levantando da pesada e irregular pedra onde estava sentado, o sacerdote pegou uma pequena pedra no meio da bagunça que tomava conta daquele lugar, de cor clara com filetes dourados e prateados ao redor, e jogou-a sobre a mesa, emitindo um som seco e fazendo com que a poeira que subiu novamente invadisse sua respiração provocando-lhe um espirro violento dessa vez.
                      - Isso é o que restou de uma grande estátua no formato de uma pena em contato com um livro aberto simulando uma escrita. Esse material é Pedra-reinande, encontrada nas cavernas das Montanhas Altas, e foi extraída por anões durante alguns anos, pela dificuldade de retirar a pedra das paredes rochosas. Com esse fragmento em suas mãos, na época em que morávamos na superfície, você poderia comprar uma boa casa para morar com um grande terreno, comprar uma carroça com um cavalo para puxa-la, uns sete bois e sete vacas, algumas ovelhas e alguns porcos, e muita verdura e bebidas para meses de uso. Os próprios suportes onde estavam os livros que as penas escreviam eram desse material, e já ouvi dizer que foi uma obra dos anjos de algum reino transcendental. Cada livro, ou página que encontrarmos aqui sobre o fim da vida de algum ser vivente, - tossiu de novo - nos dirá muito sobre o que precisamos de informação. E enquanto estamos nesse trabalho difícil, alguns trabalhadores restauram algumas paredes daqui, enquanto nós tentamos restaurar a esperança. - e mais uma vez tossiu, dessa vez levantando com algumas páginas abraçadas contra o corpo. - Vamos Lyria, levante, quero te falar sobre os desenhos da parede externa do Grande Salão.
                          No caminho que seguiram, à esquerda e à direita alguns grupos, duplas ou trios se juntavam, alguns organizando páginas e mais páginas soltas de livro, outros eram instruídos por homens mais velhos, e uns recolhiam livros inteiros de distintas cores e diversos tamanhos e encaixava-os nas grandes estantes de madeira esverdeada, as mesmas que faziam o lugar cheirar a folhas esmagadas. Mais à frente num pilar mais alto podiam ver a Última Pena Destra, repousada em uma esfera de vidro que flutuava sobre uma chama esverdeada liberada por uma tocha cinza feita de pedra.
                          Uma página média no seu tamanho se comparado com as que o sacerdote carregava, caía no balançar da sua flutuação até alcançar os braços da elfa que seguia o homem velho, quando a jovem recebendo a folha olhou para descobrir a origem da mesma, notando que nas partes mais altas de uma estante estava uma mulher numa grande escada organizando pergaminhos e outras coisas que não eram possíveis de saber ao certo o que eram. Na página tinha o desenho de um escudo prateado com um machado esmagando uma pedra no seu meio entalhado, tendo na extremidade de sua circunferência o desenho de archotes pequenos acesos com um tipo de fogo verde.
                           - O que significa esse símbolo mestre?
                           - Este é o escudo dos Esmagadores de Rocha, um grupo de anões que além de serem peritos em luta com machados, são muito eficazes na mineração e na extração de qualquer material em cavernas ou túneis, e nós temos alguns representantes conosco, para a sorte de todos. Aproveitando isso, irei te mostrar a parte desenhada contando a história deles.
                            Chegando ao lado de fora do que em outro tempo foi um salão perfeito e intacto, o sacerdote levou a elfa no início das gravuras feitas em muitas cores, falando a respeito dos anões e seus feitos, vendo um grande símbolo que a jovem num rápido olhar de comparação percebeu que se tratava do mesmo. Permaneceram no estudo por um logo tempo, seguido da empolgação da elfa, que mais tarde acabou deixando o cansaço abraçar-lhe, deitando ali mesmo para repusar, descansando sua cabeça em algumas das páginas soltas de livros.







terça-feira, 15 de abril de 2014


"Quão bela és ó amada minha,
Teus cabelos negros como corvos, perfumados.
Seu tambor que nem som tinha,
Alegrando meus sonhos alados.

Mais agradável de ver que a guarda do reino,
Mais cobiçada que o ouro e a prata,
Nem a grande cidade me teria por inteiro,
Lança que carrega e de amor me mata.

Lábios vermelhos de um tom inebriante,
Nem a extinta guarda escarlate teria tal cor.
Sou louco, andarilho, da beleza amante,
Seu olhar de flechas, afugenta a dor.

Canto as canções que tu amas, dedilhando a viola.
Sorriso teu mais alvo que veste santa,
Teu abraço minh'alma não mais implora,
Pois te tenho comigo, e o reinado canta.

Correremos entre as montanhas, e pelas florestas,
Nas margens dos rios e na grande savana,
Sem temer as bestas, sem temer as feras,
Já que o amor a morte engana."



Poesia encontrada por um estudioso entre páginas rasgadas de alguns livros no Grande Salão, de autor desconhecido. 



Andhor, um dos guerreiros que subiram.

                       A inquietude e ansiedade gritavam dentro de Andhor. Despertou antes do povoado da cidade, afiou sua espada e calçou suas botas escuras. Sua breve refeição tinha algumas frutas pequenas e poucos pedaços de queijo que foram cortados com seu próprio punhal, além de uma caneca grande de madeira que transbordava espuma de alguma cerveja quente e amarga que a cada gole empurrava o alimento para seu estômago.
                       Apenas o fato de saber que na superfície encontraria desafios maiores, seus anseios o empurravam para longe das profundezas daquela cidade transportada por magia, daquela prisão subterrânea.
                       Aquela falta que sentia era da época dos combates contra criaturas ao redor do reino, das pequenas guerras contra outros reinados. A vida só tinha sentido na luta por ela, e ficar esperando ela acontecer não combinava com o guerreiro.     Existiam dias específicos para que alguém pudesse subir, e esse não era o dia.
                        Os guardas vestindo suas placas vermelhas e brancas formando belas armaduras estavam aos grupos nas passagens para os túneis que levavam para fora do lugar. Nem mesmo aquela iluminação amarelada e fraca feita por fogo e magia permitia alguém se camuflar para uma fuga sem suspeitas, então o humano Andhor teria que enfrentar os sentinelas. Encontrou com os dedos algumas moedas de prata no fundo bolso esquerdo, e parou na frente de uma loja de ervas e especiarias.
                         Na estrutura de madeira cheirando a eucalipto e musgos, saiu de um corredor lateral pouco iluminado uma senhora de pele enrugada e parda, com olhos verdes claros e vestes surradas e de um marrom fraco e aparentemente sujo.
                        -Em que posso ser útil meu querido? - Ao abrir a boca e revelar      sua voz rouca, seus poucos e escuros dentes deixaram escorrer uma pasta úmida de alguma folha que mascava.
                        -Um punhado de ervas para ferimentos e outro de ervas contra envenenamento. - disse Andhor, retirando as moedas de prata do bolso e repousando-as no balcão do lugar, enquanto a velha preparava seu pedido. Guardou as ervas prendendo os pacotes no cinto e andou em direção aos guardas em uma das passagens para o alto.
                        Percebendo sua aproximação, um som rápido de metal fora emitido das armaduras dos guardas, que ficaram enfileirados em sua frente, no que um deles, provavelmente o líder, se encaminhou com a mão direita erguida pretendendo impedir o avanço do homem.
                         -Você não pode passar. Se bem sabes, daqui a 3 meses as passagens serão liberadas, até lá ninguém passa.- o guarda abaixou a mão e cruzou os braços revestidos de metal, olhando por cima já que sua estatura era um pouco maior que o guerreiro.
                          -Saiam da minha frente, por que vou passar de qualquer forma, agora você que decidirá se passarei ou não sobre seus corpos. - Andhor falou tirando sua espada da bainha, encostando sua ponta no chão lentamente, descansando uma mão sobre a outra na extremidade do cabo de sua arma envolvido por filetes escuros de couro, no que todos os guardas, cerca de 12 deles, ergueram suas lanças, com semblantes semicerrados e marchando contra o desafiante rebelde.
                           -Não irei repetir...- o guarda tentou se aproximar de Andhor, que num giro corporal rápido, bateu com o cabo da espada na lateral direita do corpo do guarda que na dor envergou-se, se tornando vítima do guerreiro, prendendo seu pescoço com o braço esquerdo, ameaçando cortar-lhe com sua lâmina segurada pela mão direita.
                           -Todos recuem se não eu o mato!- Andhor percebeu o temor nos demais guardas pela vida de seu líder, e andou para trás com sua presa chegando cada vez mais próximo do portão que dava acesso ao túnel, quando notou que a cavalaria vinha de encontro ao lugar que estava.
                          No momento que os cavalos chegaram com seus dominadores, o guerreiro chutou as costas do líder da guarda num som de impacto afastando o mesmo de si, e correndo em disparate para a entrada, saltando num impulso e deslizando no chão de pedras retangulares, passando numa brecha por baixo do portão de ferro.
                          Um guarda mais novo em sua aparência arremessou sua lança para atingir Andhor, que no susto deu um passo rápido para trás se esquivando, e recolheu a lança levando-a consigo e desaparecendo aos poucos numa das curvas do túnel pouco iluminado por archotes. "Liberdade", foi a palavra que veio à sua mente. Quanto mais andava pelos túneis mais parecia que eles não terminariam, mas apenas o fato de sair daquela cidade onde muitos se refugiavam já alegrava-o, trazia vida para sua alma.
                           Chegou numa parte onde não havia iluminação, e continuou caminhando retirando um archote da parede para enxergar o caminho. Aquelas chamas fizeram ele lembrar das fogueiras que acendia para sua esposa e seus 2 filhos que deixou numa das 5 aldeias do norte florestal, antes de ir à cidade para procurar quem pagasse por seus serviços, quando de surpresa, fora transportada para baixo, afastando-o de sua família por anos, "todos devem estar bem mais velhos e não sei se me reconheceriam, mas tenho a esperança de que irei vê-los novamente", pensou quando recordou que a energia motivadora da mudança da cidade tinha também o poder de retardar o envelhecimento de todos, e ele mesmo tinha permanecido com a mesma aparência de anos atrás.
                             Após horas e horas de caminhada resolveu descansar, num lugar ainda sem iluminação, repousando o archote no chão e deitando ao lado da lança e da espada, e dormiu.
                             Sonhou com guerras e homens morrendo ao fio de espadas. Viu flechas às saraivadas indo de encontro ao corpo e escudos de tropas que gritavam seus gritos de batalha e suas dores. Sonhou com um ser alado que descia de encontro aos homens atirando flechas nos mesmos, enquanto alguns eram consumidos por fogo azul de suas magias. E viu essa criatura voando sobre as aldeias, viu pessoas gritarem e correrem, corpos e sangue, fogo e mais gritos, viu sua mulher chorando e sua casa em chamas. Acordou num susto, suando e com pupilas dilatadas, com a mão direita puxando sua espada, e percebeu que teve um pesadelo. Levantou afastando a poeira das vestes e de seu cabelo escuro, e decidiu continuar andando, já que tinha a esperança de ainda ver sua família, mesmo sabendo que isso seria quase impossível, mesmo que custasse a própria vida.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Nossa aldeia era responsável pela caça e abastecimento das 5 aldeias nessa parte da floresta, e mais uma vez estávamos reunidos fora dos limites do povoado, éramos no total 15 caçadores, e eu um humano, era um dos 3 líderes, alguns anões e outros homens.
O sol ardia nas alturas, num céu sem nuvens, e entre nós, pequenas instruções e lembretes eram dirigidos a cada membro caçador. Armas eram afiadas e em meio ao som do aço podíamos ouvir desafios e risadas amigáveis no grupo, e alguns anões discutindo e disputando as botas de couro disponíveis para sua raça.
                 Com a ordem dada, todos seguiram para dentro da floresta fechada. Era o mês do segundo sol (nome dado referente ao aumento do clima na região) e nesse tempo os animais pequenos estavam aos montes no matagal, era uma época gorda e farta. Passamos o dia inteiro acertando com virotes os animais, partindo suas carnes com machado, manchando nossas roupas de escarlate, e enchendo sacos de o que mais tarde iria alimentar nosso povo de boa carne na semana vindoura.
                  Ao crepúsculo que arrastava o manto noturno acima de nossas cabeças, decidimos retornar às cinco aldeias, exaustos e cheios de caça. Entre conversas e sacos carregados nas costas, um silvo, e um corte no vento passando de raspão no lado direito de meu rosto, e minha mão recolhendo o sangue que escorria do corte, quando um de nossos homens cai sem emitir som. Os sacos são soltos e quando alguns vão verificar o que tinha acontecido, mais outro homem cai, depois mais outro e outro, enquanto algumas flechas erradas acertavam as árvores próximas. 'Estamos sendo atacados' foi o que pensei no momento, e mais homens caíam, confusos e surpreendidos, impotentes em meio à escuridão que a noite trazia, até que restaram eu e mais dois do grupo. As flechas pararam de vir em nossa direção. A lua trazia uma fraca luz no lugar, e podíamos ver apenas a caça e os corpos de nossos companheiros no chão. Até que som de passos denunciavam a aproximação de alguém.
                   Uma silhueta se revelava entre folhas rasteiras na escuridão, algo que parecia um homem alto com duas asas encolhidas tendo pontas em suas extremidades, e na sua mão direita uma chama azul com fios amarelados rodopiava engolindo seu braço, e como se tivesse vida própria, se lançou ao chão num som de trovão, logo em seguida subindo de encontro ao caçador à minha frente, corroendo seu corpo com acidez emanando fedor de carne queimada. O outro companheiro que estava ao meu lado me ordena fugir e corre  em direção ao ser do outro lado, numa tentativa de ataque, e no mesmo momento corri para o caminho dentro do escuro que levava às aldeias.
                    Na minha corrida, pude ouvir o grito de dor do outro caçador, e tentei correr mais rápido do que já me esforçava, e parecia que eu não iria chegar nunca no povoado, minhas forças estavam me abandonando, minha garganta seca ansiava por água, meus olhos numa visão cansada me informavam com dificuldade que um vulto no alto interrompeu a luz da lua em fração de segundos, e as folhas das árvores sacudiam. Meu coração batia mais forte e minha fadiga me paralisava recostado ao lado de um tronco cheirando a limo.
                     Aquela criatura caminhava e se aproximava, seus passos esmagavam folhas no chão e sufocavam minhas esperanças, eu ja não tinha controle sobre minhas pernas que tremiam ao minhas costas deslizarem na árvore me fazendo sentar no chão. Na pouca luz vi o ser erguer seu arco e uma flecha sendo puxada e direcionada para meu corpo. Só pude pensar no que havia acontecido com o povo das aldeias, ou no que aconteceria, e as flechas me acertavam, uma no braço direito, e eu gritei, quando uma acertou minha perna esquerda, uma no abdômen, uma no ombro, e minha respiração se tornava difícil e pesada, uma acertou meu torax, quando a dor era substituída pela diminuição da visão, pela tontura e pelo gosto de sangue que minha lingua recebia de dentro e fora de meu corpo.
                     Novamente a mão daquele inimigo era tomada pelo fogo azul, e no meu piscar de olhos, na tentativa sufocante de gritar, a chama sumiu rasgando o chão mas não escutei o trovão de seu som, apenas fechei os olhos, apenas aguardei a morte que era certa..."


Resumo feito pelos estudiosos no salão, segundo um pergaminho encontrado, sobre o último dia e últimos momentos de vida do líder-caçador Margor hunterfood das 5 aldeias harmoniosas do norte florestal.
"Saudações aos visitantes desse imenso salão antigo, outrora uma glória exemplar na sua riqueza em livros e pergaminhos, na manifestação de conhecimento e sabedoria, onde as inúmeras penas mágicas, conhecidas como penas destras, uma para cada vida existente, escrevia a história de cada ser, desde seu nascimento, até à transcendência de sua alma, rasgando o véu da morte, e onde também muitos livros sobre os reinos e outros conhecimentos estavam.
Apenas um sacerdote e um mago poderiam entrar no lugar sem serem consumidos pelo fogo santo do lugar. Alguns dizem que a construção foi um presente de um deus, outros dizem que algum reino celestial cansado de suas criações, lançaram a estrutura para longe de seus domínios.
Nos dias de hoje se assemelha a um grande templo quase destruido pelas guerras na superfície, combates movidos por egoísmo, cobiça e em outros casos apenas por sede de sangue. No lugar dos bancos existem pedras, onde tinha uma abóbada dourada sobre as cabeças dos sábios, existe agora um buraco imenso dando lugar à sombras dançantes vindas dos arredores. Na verdade não sabemos ao certo o que aconteceu. Há muito tempo foi descoberto que nas profundezas, abaixo da superfície, emanava uma energia capaz de, após ser armazenada em cristais, ter a capacidade de conceder poderes inimagináveis ao seu possuidor, e com isso, através da magia de nossos anciãos, nossa cidade fora transportada para baixo, próxima ao lugar da energia. E nosso reino com essa energia seria superior a qualquer outro.Se passaram 32 anos desde a viagem à profundeza, e um dos notórios poderes descobertos é o transformar rocha em água, e em alguns dias recebemos a visita inesperada de Maertral Luz da Aurora, um grande mago portador dos poderes da antiga luz. Suas vestes claras estavam rasgadas e banhadas em escarlate, e sua face revelava pequenos inchaços.
Com o silêncio nos lábios, andou com dificuldade até o Grande Jardim Central e enfiou seu cajado dourado no solo esverdeado, onde uma luz em explosão dificultou a visão de todos por alguns segundos, até que vagarosamente pode-se contemplar seu uso da magia, que trouxe o Grande Salão Pena Destra para o subterrâneo. A magia consumiu o mago, seu corpo se tornou em fragmentos de luz, se unindo ao chão do lugar, deixando escapar um pergaminho do esconderijo de suas vestes, revelando em parte o que aconteceu.
No pergaminho dizia que aconteceram guerras, aparições de criaturas nunca vistas em outros tempos, destruição de reinos e vilas. A magia das penas estava de alguma forma terminando e, quando sobrou apenas uma, o mago decidiu trazer o Grande Salão para nós, e notou-se que essa última não escrevia sobre a vida de alguém em específico nem de nenhum ser dos antigos reinos, na verdade ela não mais permitia sua escrita em lugar algum, não havia tinta mágica nem alma na mesma, e com isso a dúvida de o que realmente estava acontecendo. Talvez todos foram abandonados pelos seres celestiais, possivelmente os desagradamos demasiadamente.
Passou um ano depois da morte de Maertral. Grupos se reúnem e decidem subir à superfície para explorar a terra de cima. Estudiosos e instruídos, sacerdotes e magos passam seus dias e noites estudando os livros e pergaminhos restantes para descobrirem o que aconteceu. Alguns tentam manter sua vida normalmente, alguns trabalham no armazenamento da energia, uns oram, outros choram.
Poucos que vão, voltam.
Os caminhos que levam para cima são até os dias de hoje invioláveis, e nenhum ser desconhecido invadiu nosso território, talvez por causa da energia mágica, ou apenas por mera sorte.A única coisa que se tem conhecimento é que tudo mudou, que não vemos mais a luz do sol nem sentimos a chuva fria sobre nossos corpos.
Já estamos esquecendo como é a aparência do céu estrelado. Não sabemos se conseguiremos voltar, nem sabemos se algum reino sobreviveu, mas continuaremos estudando e subindo à superfície.
Entre nas ruínas caso queira estudar com o restante dos livros e pergaminhos, ou para nos ajudar a reconstruir a estrutura.
E que tenhamos sempre esperança em dias melhores, que possamos descobrir o que aconteceu."


Texto escrito na parede principal de entrada do salão, pelo Senhor Uldrylin Herlhodren, Elfo sacerdote e estudioso dos pergaminhos do salão.