segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Nossa aldeia era responsável pela caça e abastecimento das 5 aldeias nessa parte da floresta, e mais uma vez estávamos reunidos fora dos limites do povoado, éramos no total 15 caçadores, e eu um humano, era um dos 3 líderes, alguns anões e outros homens.
O sol ardia nas alturas, num céu sem nuvens, e entre nós, pequenas instruções e lembretes eram dirigidos a cada membro caçador. Armas eram afiadas e em meio ao som do aço podíamos ouvir desafios e risadas amigáveis no grupo, e alguns anões discutindo e disputando as botas de couro disponíveis para sua raça.
                 Com a ordem dada, todos seguiram para dentro da floresta fechada. Era o mês do segundo sol (nome dado referente ao aumento do clima na região) e nesse tempo os animais pequenos estavam aos montes no matagal, era uma época gorda e farta. Passamos o dia inteiro acertando com virotes os animais, partindo suas carnes com machado, manchando nossas roupas de escarlate, e enchendo sacos de o que mais tarde iria alimentar nosso povo de boa carne na semana vindoura.
                  Ao crepúsculo que arrastava o manto noturno acima de nossas cabeças, decidimos retornar às cinco aldeias, exaustos e cheios de caça. Entre conversas e sacos carregados nas costas, um silvo, e um corte no vento passando de raspão no lado direito de meu rosto, e minha mão recolhendo o sangue que escorria do corte, quando um de nossos homens cai sem emitir som. Os sacos são soltos e quando alguns vão verificar o que tinha acontecido, mais outro homem cai, depois mais outro e outro, enquanto algumas flechas erradas acertavam as árvores próximas. 'Estamos sendo atacados' foi o que pensei no momento, e mais homens caíam, confusos e surpreendidos, impotentes em meio à escuridão que a noite trazia, até que restaram eu e mais dois do grupo. As flechas pararam de vir em nossa direção. A lua trazia uma fraca luz no lugar, e podíamos ver apenas a caça e os corpos de nossos companheiros no chão. Até que som de passos denunciavam a aproximação de alguém.
                   Uma silhueta se revelava entre folhas rasteiras na escuridão, algo que parecia um homem alto com duas asas encolhidas tendo pontas em suas extremidades, e na sua mão direita uma chama azul com fios amarelados rodopiava engolindo seu braço, e como se tivesse vida própria, se lançou ao chão num som de trovão, logo em seguida subindo de encontro ao caçador à minha frente, corroendo seu corpo com acidez emanando fedor de carne queimada. O outro companheiro que estava ao meu lado me ordena fugir e corre  em direção ao ser do outro lado, numa tentativa de ataque, e no mesmo momento corri para o caminho dentro do escuro que levava às aldeias.
                    Na minha corrida, pude ouvir o grito de dor do outro caçador, e tentei correr mais rápido do que já me esforçava, e parecia que eu não iria chegar nunca no povoado, minhas forças estavam me abandonando, minha garganta seca ansiava por água, meus olhos numa visão cansada me informavam com dificuldade que um vulto no alto interrompeu a luz da lua em fração de segundos, e as folhas das árvores sacudiam. Meu coração batia mais forte e minha fadiga me paralisava recostado ao lado de um tronco cheirando a limo.
                     Aquela criatura caminhava e se aproximava, seus passos esmagavam folhas no chão e sufocavam minhas esperanças, eu ja não tinha controle sobre minhas pernas que tremiam ao minhas costas deslizarem na árvore me fazendo sentar no chão. Na pouca luz vi o ser erguer seu arco e uma flecha sendo puxada e direcionada para meu corpo. Só pude pensar no que havia acontecido com o povo das aldeias, ou no que aconteceria, e as flechas me acertavam, uma no braço direito, e eu gritei, quando uma acertou minha perna esquerda, uma no abdômen, uma no ombro, e minha respiração se tornava difícil e pesada, uma acertou meu torax, quando a dor era substituída pela diminuição da visão, pela tontura e pelo gosto de sangue que minha lingua recebia de dentro e fora de meu corpo.
                     Novamente a mão daquele inimigo era tomada pelo fogo azul, e no meu piscar de olhos, na tentativa sufocante de gritar, a chama sumiu rasgando o chão mas não escutei o trovão de seu som, apenas fechei os olhos, apenas aguardei a morte que era certa..."


Resumo feito pelos estudiosos no salão, segundo um pergaminho encontrado, sobre o último dia e últimos momentos de vida do líder-caçador Margor hunterfood das 5 aldeias harmoniosas do norte florestal.
"Saudações aos visitantes desse imenso salão antigo, outrora uma glória exemplar na sua riqueza em livros e pergaminhos, na manifestação de conhecimento e sabedoria, onde as inúmeras penas mágicas, conhecidas como penas destras, uma para cada vida existente, escrevia a história de cada ser, desde seu nascimento, até à transcendência de sua alma, rasgando o véu da morte, e onde também muitos livros sobre os reinos e outros conhecimentos estavam.
Apenas um sacerdote e um mago poderiam entrar no lugar sem serem consumidos pelo fogo santo do lugar. Alguns dizem que a construção foi um presente de um deus, outros dizem que algum reino celestial cansado de suas criações, lançaram a estrutura para longe de seus domínios.
Nos dias de hoje se assemelha a um grande templo quase destruido pelas guerras na superfície, combates movidos por egoísmo, cobiça e em outros casos apenas por sede de sangue. No lugar dos bancos existem pedras, onde tinha uma abóbada dourada sobre as cabeças dos sábios, existe agora um buraco imenso dando lugar à sombras dançantes vindas dos arredores. Na verdade não sabemos ao certo o que aconteceu. Há muito tempo foi descoberto que nas profundezas, abaixo da superfície, emanava uma energia capaz de, após ser armazenada em cristais, ter a capacidade de conceder poderes inimagináveis ao seu possuidor, e com isso, através da magia de nossos anciãos, nossa cidade fora transportada para baixo, próxima ao lugar da energia. E nosso reino com essa energia seria superior a qualquer outro.Se passaram 32 anos desde a viagem à profundeza, e um dos notórios poderes descobertos é o transformar rocha em água, e em alguns dias recebemos a visita inesperada de Maertral Luz da Aurora, um grande mago portador dos poderes da antiga luz. Suas vestes claras estavam rasgadas e banhadas em escarlate, e sua face revelava pequenos inchaços.
Com o silêncio nos lábios, andou com dificuldade até o Grande Jardim Central e enfiou seu cajado dourado no solo esverdeado, onde uma luz em explosão dificultou a visão de todos por alguns segundos, até que vagarosamente pode-se contemplar seu uso da magia, que trouxe o Grande Salão Pena Destra para o subterrâneo. A magia consumiu o mago, seu corpo se tornou em fragmentos de luz, se unindo ao chão do lugar, deixando escapar um pergaminho do esconderijo de suas vestes, revelando em parte o que aconteceu.
No pergaminho dizia que aconteceram guerras, aparições de criaturas nunca vistas em outros tempos, destruição de reinos e vilas. A magia das penas estava de alguma forma terminando e, quando sobrou apenas uma, o mago decidiu trazer o Grande Salão para nós, e notou-se que essa última não escrevia sobre a vida de alguém em específico nem de nenhum ser dos antigos reinos, na verdade ela não mais permitia sua escrita em lugar algum, não havia tinta mágica nem alma na mesma, e com isso a dúvida de o que realmente estava acontecendo. Talvez todos foram abandonados pelos seres celestiais, possivelmente os desagradamos demasiadamente.
Passou um ano depois da morte de Maertral. Grupos se reúnem e decidem subir à superfície para explorar a terra de cima. Estudiosos e instruídos, sacerdotes e magos passam seus dias e noites estudando os livros e pergaminhos restantes para descobrirem o que aconteceu. Alguns tentam manter sua vida normalmente, alguns trabalham no armazenamento da energia, uns oram, outros choram.
Poucos que vão, voltam.
Os caminhos que levam para cima são até os dias de hoje invioláveis, e nenhum ser desconhecido invadiu nosso território, talvez por causa da energia mágica, ou apenas por mera sorte.A única coisa que se tem conhecimento é que tudo mudou, que não vemos mais a luz do sol nem sentimos a chuva fria sobre nossos corpos.
Já estamos esquecendo como é a aparência do céu estrelado. Não sabemos se conseguiremos voltar, nem sabemos se algum reino sobreviveu, mas continuaremos estudando e subindo à superfície.
Entre nas ruínas caso queira estudar com o restante dos livros e pergaminhos, ou para nos ajudar a reconstruir a estrutura.
E que tenhamos sempre esperança em dias melhores, que possamos descobrir o que aconteceu."


Texto escrito na parede principal de entrada do salão, pelo Senhor Uldrylin Herlhodren, Elfo sacerdote e estudioso dos pergaminhos do salão.